7. Experiência

A palavra experiência aparece como uma palavra chave que remete para o presente e a acção, mas também para algo que acontece sem que possamos controlar. A experiência tem ainda um carácter subjectivo e transformador que me pressupõe um estado de abertura que me permita ser atravessada por algo. Como performers, é quando nos abrimos à possibilidade de viver plenamente uma experiência, que permitimos que os outros a possam viver também através de nós.

Em pesquisas relacionadas com esta palavra, encontrei o texto Sobre la experiencia de Jorge Larrosa. Deixo em baixo uns excertos, mas podem ler o texto integral, publicado no site Praticas de subjetivación. Nele, Larrosa aborda aqueles que afirma poderem ser considerados os “princípios da experiência”: exterioridade, alteridade e alienação; subjetividade, reflexividade e transformação; singularidade, irrepetibilidade e pluralidade; passagem e paixão; incerteza e liberdade; finitude, corpo e vida.
Se a experiência é “o que acontece comigo”, quer dizer que supõe, em primeiro lugar, um acontecimento ou, noutras palavras, a passagem de algo que não sou eu. E “algo que não sou eu” também significa algo que não depende de mim, que não é uma projecção de mim mesmo.
A experiência é um movimento de ida e volta. Um movimento de ida porque a experiência supõe um movimento de exteriorização, uma saída de mim mesmo, um movimento que vai ao encontro do que está a acontecer, ao encontro do acontecimento. E um movimento de volta porque a experiência supõe que o acontecimento me afecta, que tem efeitos em mim, no que sou, no que penso, no que sinto, no que sei, no que quero, etc.
O lugar da experiência é o sujeito ou, noutras palavras, a experiência é sempre subjectiva. Mas um sujeito que é capaz de deixar que algo lhe aconteça, ou seja, que algo lhe aconteça nas suas palavras, nas suas ideias, nos seus sentimentos. É, portanto, um sujeito aberto, sensível, vulnerável, exposto. Não existe experiência em geral, não existe a experiência de ninguém, a experiência é sempre a experiência de alguém. Esse sujeito sensível, vulnerável e exposto é um sujeito aberto à sua própria transformação.
A experiência sempre tem alguma incerteza. A incerteza constitui-a. Porque a abertura que a experiência dá é a abertura do possível, mas também do impossível, do surpreendente, do que não pode ser. A experiência é um talvez. Ou seja, a experiência é livre, é o lugar da liberdade.
A experiência soa a finitude. Ou seja, a um tempo e um espaço particular, limitado, finito. Também soa a corpo, isto é, sensibilidade, toque e pele, voz e audição, olhar, paladar e olfacto, prazer e sofrimento, carícia e ferida, mortalidade. E soa, acima de tudo, a vida, a uma vida que não é outra coisa que não o seu próprio viver, a uma vida que não tem outra essência senão a sua própria existência finita, corporal, de carne e osso.

Nos últimos meses li, escrevi e fotografei mais do que dancei. O tempo da não dança é tão importante como o tempo da dança, como o tempo da não escrita é tão importante como o tempo da escrita. Kafka terá escrito que um livro deve ser como uma picareta de gelo que rompa o mar congelado que temos dentro. É por este momento que continuo a dançar. É tempo de voltar ao corpo, com toda a sua sombra e potência, e sublimar a realidade. É hora de voltar onde tudo começa.

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