A fotografia é um meio de questionar o mundo e, ao mesmo tempo, de questionar-se a si mesmo.
Fotografar é, na verdade, uma necessidade de solidão atrelada a uma necessidade de não se isolar.
Henri Cartier-Bresson in Ver é um todo: Entrevistas e Conversas 1951 – 1998
Em 2010, durante a formação em dança em Veneza, a imagem adquiriu um papel relevante na minha visão artística. Desde lá tenho feito multimédia para artistas como vintiset.net, em parceria com o Dídac Gilabert, e dedico-me à fotografia de rua e fotografia documental. Em 2017 participei no workshop On the Road de Nikos Economopoulos / Magnum Photos.
A educação do olhar foi feita essencialmente através da prática. Documentários, entrevistas, livros e exposições são também fundamentais para fruir, questionar e reflectir. Observar o trabalho de outros fotógrafos e perceber os seus processos, é uma das formas de ir percebendo o próprio processo. Sair à rua com a câmera e improvisar compondo o caos é uma das melhores sensações para mim. Uma fotografia pode atribuir significado a momentos que, possivelmente, de outra forma não seriam notados, ou pelo menos não desde o ponto de vista do fotógrafo. Capto aquilo que me surpreende ou algo simples que quero evidenciar. Enquadro pessoas num lugar e num tempo, envoltas de uma atmosfera. Fotografar é enraizar e aprender a abrir mão do controle. Pau Casals dizia que a técnica mais perfeita é a que não se vê. Uma vez dominada a técnica e conquistado um nível de automatismo no conhecimento do instrumento que temos em mãos, tanto a técnica como a câmera deixam de ser o mais importante no processo de fotografar. São pessoas que fazem que uma fotografia seja atemporal, com toda a sua bagagem, a forma como vêem e como sentem revela-se em composição, ideias, tonalidades, formas, etc. As boas fotografias são aquelas que não nos cansamos nunca de ver. Aprender a ler uma imagem é uma questão de literacia, nos dias que correm.
Documentários e palestras que fui encontrando: Contacts: Photographer’s Secrets, Koudelka: Shooting Holy Land, The Genius of Photography, Detrás del instante, Fotografia Portuguesa, Conversas à Volta da Luz, Entre Imagens.
A fotografia também tem estado lado a lado com o meu processo criativo em dança. Em 2016 criei Erm, inspirada pela vida e obra de Sebastião Salgado, depois de ver o documentário O Sal da Terra. Durante o processo tive a oportunidade de ver a sua exposição Genesis em Lleida. Antes, em 2013, o tema do espectáculo uma forma quase cilíndrica surgiu a partir da imagem de uma mulher a transportar água em África.
Algumas questões que me têm surgido no contexto deste projecto: de que forma pode a observação quotidiana intervir na improvisação e composição em dança? Como é que uma fotografia pode contar algo sobre uma personagem para além do seu reflexo na câmera? Fotografar pode ser uma forma de dar vida a objectos inanimados? De que forma a repetição pode estar presente nas imagens e o que é que esta figura de estilo sugere ao espectador?