Selado a muros no meu quarto, a luz trémula do candeeiro esboça o frémito que alastra pelo meu corpo. A casa fica num quintal de oliveiras que um instante me lembram, refolhadas de agouro, redondas de mistério, negras do sopro agreste do Inverno. Endurece-as um implacável questionar de raízes, solidifica-as uma obstinação contra os ventos e as geadas, contra a plácida violência da montanha. Aí me escuto, me reconheço.
Vergílio Ferreira, Invocação ao Meu Corpo

O pulsar omnipresente da água, a neblina nas montanhas horizonte, a noite escura: Melo (onde nasceu), Gouveia e Sintra (onde viveu) tornam a escrita de Vergílio ainda mais presente. Porque um escritor não se dissocia das paisagens que transporta. E lá, face à evidência acidental, tive uma imagem impressa nalgum lugar microscópico do corpo, num tempo suspenso que abre espaço à dimensão do eterno. Aí me escuto, me reconheço. Homenagem ao escritor Vergílio Ferreira. Porque é grande a distância que vai da ausência ao esquecimento.
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Fotografia
Teresa Santos
Produção
Grito imagens














