Foi por acaso que encontrei um lavadouro em Santa Maria da Feira, datado de 1969. Descia uma rua quando ouvi o som da água a correr — segui-o, e lá estava ele. Cheguei a pensar em continuar o passeio e voltar mais tarde, mas era um dia de calor intenso, e o que encontrei nas redondezas foram ruas hostis: sem passeios, expostas ao sol. Em contraste, o lavadouro oferecia sombra, frescura e o som sereno da água. Decidi ficar ali, naquele oásis.
Enquanto observava, fui registando com o telemóvel. Chamavam-me a atenção os reflexos, a transparência da água, os objectos do dia-a-dia que habitam estes lugares e os sinais que o tempo deixou. Sentia alguma estranheza por parte de quem passava — afinal, quem tem tempo para estar num lavadouro apenas a olhar?
Este momento confirmou-me algo que já intuía: os lavadouros são espaços de confiança, onde se pode deixar algo com a certeza de que estará lá ao voltar. Durante o tempo em que permaneci ali, um homem aproximou-se. Lavou as luvas: primeiro ainda calçadas, depois esfregando-as na pedra e mergulhando-as na água.
Tal como alguns espaços culturais e espectáculos, estes são lugares livres de publicidade e onde é possível estar e conviver sem consumir.
Teresa Santos